João Pedro Mésseder
(seudónimo literario de José António Gomes) é un escitor portugués a
quen eu lle teño en grande estima.
Boa persoa, comprometido
social e literariamente coas boas causas, intelixente, grande investigador,
conferenciante e mil cousas máis, João Pedro Mésseder tiña que estar en Versos
e aloumiños nesta sección A luz das palabras.
Por moitas cousas, xa que á
súa mestría como escritor é enorme, ademais do seu concepto ético e humanista,
faino merecente de que leamos as súas palabras e gocemos delas.
João Pedro Mésseder nun acto literario (Foto. Novos Livros) |
Pedímoslle dende este
blog-revista un texto sobre o que a el lle parecese acaído e agasallounos
cunhas liñas fermosísimas sobre a poesía infantil e xuvenil e tres poemas, que
son excelentes.
Podedes lelos deseguido e
seguro que vos vai interesar dende as primeiras liñas.
Grazas, prezado amigo, pola
túa xenerosidade sempre.
É un pracer e unha honra que
figures nun espazo que nós coidamos con moito agarimo.
O noso autor cun libro marabilloso sobre as maneiras de mirar Porto |
Poesia infantil
e juvenil?
Questão que tantas vezes me coloco: o que é, para mim, a poesia infantil
e juvenil, ou, como prefiro dizer, a poesia para a infância e a juventude? E
porque a escrevo? (Essa poesia que sei imprescindível à educação literária dos
mais jovens e à formação do espírito crítico, da capacidade de analisar
criticamente o mundo e os discursos da manipulação.)
Enquanto poesia, que é ou deve ser, não a distingo da outra. Ela é
sempre expressão duma subjectividade peculiar, captura de um instante,
específico modo de encarar a vida e desvelar o real. E é uma certa forma de
acrescentar beleza à beleza do mundo e de contrariar a fealdade e o horror. Sempre
lerei com idêntico prazer e proveito os poemas escritos por um Pessoa, um
Sidónio Muralha, um Manuel António Pina, uma Gloria Fuertes ou um Guillevic, um
Mário Quintana, uma Cecília Meireles ou um Vinicius de Moraes, quer esses
poemas tenham sido escritos “para niños” (lembrando aqui o enorme Federico
García Lorca e os seus versos) quer para um público adulto preferencial. E a criação
poética de um Gianni Rodari? Essa, para dar um exemplo mais, será sempre uma
escrita maior em qualquer tempo e lugar, e qualquer que seja o seu leitor.
Há, contudo, traços semânticos, formais e expressivos (e até ousadias)
em muita poesia – e naturalmente, por maioria de razão, na dita infantil – que creio
poderem suscitar a adesão dos mais novos. A musicalidade, em primeiro lugar; a
concretude visual e/ou acústica do poema; a própria concretude do seu léxico; a
sensorialidade das suas imagens e ritmos; ou ainda aquele estranhamento que,
por vezes, o absurdo, o nonsense podem gerar em quem escuta ou lê. (E, nas
primeiras idades mas não só, o recurso à voz e, claro está, ao canto e à música
parece-me factor essencial de motivação dos mais pequenos para a poesia.)
Costumo aliás pensar que o jogo (linguístico, poético) e até o chiste –
que tão presentes se encontram nas escritas das vanguardas históricas
(dadaísmo, surrealismo, futurismos e outros -ismos ligados ao modernismo
literário, nas suas diversas expressões nacionais do Ocidente) –, o jogo, dizia
eu, acabou sendo, precisamente, um dos traços que vieram contribuir para o
surgimento, ou, se preferirmos, para a libertação desse modo de expressão literária
a que hoje, por comodidade, tendemos a chamar “poesia infantil e juvenil”.
Veja-se o caso de Fernando Pessoa em Portugal, com os seus “Poemas para Lili”. E,
por outro lado, veja-se o de um original artista plástico e também notável
escritor modernista, Almada Negreiros, que, sem propriamente os destinar à
infância, nos legou textos que quase poderíamos dizer de poesia infantil, como
“A Invenção do Dia Claro” (1921) – perfeito exemplo de uma “sofisticação da
simplicidade”, num texto heterogéneo e admirável, como que saído da voz de um
menino.
É pois um espaço de liberdade e de aventura (e, convém acrescentar, de
comunicabilidade) o que a criação poética para a infância me tem proporcionado.
E por isso tenho cultivado distintas formas e géneros: dos versos ritmados e
cantantes ao haiku, do micropoema em prosa à poesia narrativa, do aforismo
poético ao texto para canção, passando, aqui e acolá, pelo poema visual. E o
mesmo diria em relação à dimensão semântica da poesia, embora me sejam “naturais”
certas inclinações ideotemáticas – sendo que, de algumas, todavia, nem sempre
terei consciência. Duas apenas: a defesa da paz e a preocupação com a justiça
social, sem as quais a liberdade é coisa morta.
Uma nota final: acontece-me, ao organizar um livro, lembrar-me de algum
texto escrito “para adultos” que reconheço como susceptível de ser incluído num
poemário para os mais novos. E então aí, não hesito. Um exemplo? Esta espécie
de haiku com que remato, que escrevi há dois anos talvez e integrarei em livro
próximo:
FAROL
Em terra
o meu farol
é o mar.
E poñemos a continuación dous poemas comprometidos co ser
humano, absolutamente necesarios, sobre todo nestes tempos que
estamos a vivir.
Talvez esta nuvem
Talvez esta nuvem
conheça o teu
nome,
tão cheio de fome.
Talvez esta nuvem
a vir do Oriente
me diga: está vivo
o menino doente.
Talvez esta nuvem
de longe a chegar
me traga notícia
da guerra a
acabar.
(Foto de Save the Children) |
Talvez esta nuvem
me conte que és
vivo
à escola voltaste
e fazes amigos
na tua terra
livre,
na tua terra
livre.
11-8-2024
João Pedro Mésseder en Vigo (Instituto Camões) |
Se
E se em vez de
cair
uma bomba
(Foto de La Sexta) |
uma pomba
ou se erguesse
uma tromba
de elefante
ou se ouvisse
um gato
miante
ou se visse
(Foto de Mascotea) |
pinchante
e talvez cantante
e assim por
diante?
E se em vez de
cair
uma bomba
crescesse acolá
uma árvore
e debaixo da
árvore
um menino
e ao lado da
árvore
(Foto de Naturalist) |
uma casa
e à porta da casa
os seus pais
sossegados
corações
como o dele
o menino tão vivo
tão livre e tão
vivo o menino
como o mar
em frente
à casa?
12-8-2024
JOÃO PEDRO MÉSSEDER
Antonio García Teijeiro e João Pedro Mésseder no Camões en Vigo |