ANTOM
LAIA (Melide, 1956)
CHOVE EN SETEMBRO
chove na secura deste setembro
nos versos que abouram todas as mentiras
Antom Laia. (Foto tomada da editorial Urutau) |
biluricos e borboletas
setembro
recordo
mas recordo sem saber, sem saber, sem
saber se
foi onte, antes de onte ou quiçais umha
sombra
os poemas som um esquelete de cinza
pois os corpos soterran-se
na lama
chove em setembro para que eu sonhe
NESTA AUSÊNCIA PROLONGADA
fruta acochada nos meus olhos
espera infinita da lingua que busca
ateigar-se humida nos teus seios
Amo-te prolongando-me na ausência
para achar-te nesta ida que é volta
fruta a correr na vertigem que molha
os espaços das amêndoas cultivadas
para fundir a minha carne
em tua carne espasmo ardente do lume que
consome
Amo-te inteiramente nas profundidades
de esta ausência envolvendo o meu sexo
nos abraços selvagens que te agardam
para alongar-se totalmente nesta ausência!
COMO O ORVALHO
Hoje-quando me espelho-baleiro-me
pois nada tenho que poemar
o poema
no vêrtice do inexplicável afogou na rosa,
como o orvalho.
VERDE
verde a lua
verdes
agora que recordo o arrecendo das ervas
e miro-te canso, como o velho da
gabardina-percorrendo
caminhos-de pouco a pouco-saco ao lombo,
passeninho
no tris-tras que rompen as janelas nas que
se abre o céu
seios de escumas brétemas essências do
verdor nas folhas
e brincam as águas no arredor de esse
moinho destragado
(Do libro Na insônia cruel do relógio, editado
por Medulia editorial, 2022)