domingo, 23 de abril de 2017

ESCAPARATE POÉTICO (CII) João Manuel Ribeiro







                      JOÃO  MANUEL RIBEIRO (Oliveira de Azeméis, 1968)




ASSIM  NASCEM OS POEMAS

São matreiras,
as palavras.
João Manuel Ribeiro
Irrompem
repentinamente
e, sem pedir licença,
possuem o silêncio.
Assim nascem
os poemas…




FAVO

Seja a palavra
um favo
de ternura.

Tu
a abelha.

Eu
o poema e o mel…

 



PALAVRAS
Há palavras que voam,
pássaros de vento sem asas,
vão do coração ao papel
e vivem na pele das casas.

Palavras pássaro, ave, ninho,
onde se condensa toda a vida,
com sabor a maresia e rosmaninho,
a arder em sílaba atrevida.

Palavras pólen e chuva tardia,
a fecundar os dias e os gestos,
caladas em segredo ao dia
ou gritadas em coro de protestos.




PALAVRA A PALAVRA
Ilustración de Constança Araújo Amador

Palavra a palavra faz-se o poema,
a cidade, também o amor e a loucura.

Palavra a palavra  faz-se a casa, o silêncio
de operário, também a revoluçao.

Palavra a palavra faz-se a paz, o pão,
a justiça, também o riso e a alegria.

Palavra a palavra faz-se a palabra,                                             
o futuro, também a canção e o mundo.



(Do libro Palavras – chave, editado por Trinta Por Uma Linha, 2017)