domingo, 29 de marzo de 2015

MALIA A SÚA MORTE, HERBERTO HELDER SEGUE A VIVIR NOS SEUS VERSOS.



Compartindo mesa literaria con José António Gomes en Santiago (2015).

     Recibo un correo electrónico do meu querido e admirado poeta e estudoso da literatura José António Gomes que, coma el mesmo indica, “prefería não ter de escrever esta mensagem”. Non me estraña porque José António é un ha persoa sensible que zumega afecto por todas partes.
     Noto a tristura das súas palabras que os fríos e-mails non son quen de disimular.
     Comunícame o meu amigo que morreu Herberto Helder.
       
     Para José António, Herberto Helder é o maior poeta portugués “pós-Pessoa”.

     
Herberto Helder
     Helder naceu en Funchal (Madeira) en 1930. Estudou na Facultade de Filosofía e Letras de Coímbra e, posteriormente, estableceuse en Lisboa, onde se dedicou a traballos editoriais. Colaborador asiduo de distintas revistas poéticas,fundou a revista Nova (1975-1976).
     Considerado como un dos grandes poetas portugueses posuía un exquisito dominio da linguaxe e, xa dende os seus primeiros poemarios, converteuse nun poeta innovador cunha fonda orientación surrealista e experimental.

       

     Eu descubrino na magnífica “Antologia Pessoal da Poesia Portuguesa” do gran poeta Eugénio de Andrade, editada en 1999 por Campo das Letras Editores:



Bate-me à porta, em mim, primeiro devagar.
Sempre devagar, desde o começo, mais ressoando
             depois,
rassoando violentamente pelos corredores
e paredes e pátios desta própia casa
que eu sou. Que eu serei até não sei quando.
É uma doce pancada à porta, alguma coisa
que desfaz e refaz um homem. Uma pancada
breve, breve –
e eu estremeço como um archote. Eu diria
que cantam, depois  de baterem, que a noite
se move um pouco para a frente, para a eternidade.
Eu diria que sangra um ponto secreto
do meu corpo, e anoite estala…. lía eu nas páxinas 508 e 509 do libro de Andrade.

     Unha marabilla. Había nos seus versos algo que te axitaba. Non me deixou indiferente.Todo o contrario. Sentín no meu interior os golpes dos seus versos.



     
      En 2001 aparece unha pequena antoloxía en castelán na colección Debolsillo,dirixida por Ana María Moix. Fágome con ela. E leo a Helder a partir da tradución e selección de Jordi Virallonga.


Amo este verano negro como las cavernas de donde se arrancan
las constelaciones, un jardín espasmódico
     cuando
     se atraviesan las membranas de los cuartos.
Resplandezco como un cristal tallado estelarmente
en la vorágine entre la boca y el ano, como los arcos de un
     espejo.
     Toco
el nudo de los panales- y hierve la miel en lo alto del asta
vertebral. Amo el temblor de las venas que enjambran
las tablas, amo las colinas de acero en los paisajes…

      
     Envía José António Gomes algúns poemas do poeta falecido, para que o leamos en portugués. Coido que non hai mellor maneira de homenaxear a un poeta que ler os seus versos. En voz alta, en voz baixa os seus poemas pasan a ser parte íntima do lector ou lectora, porque se funden cos seus sentimentos e as súas necesidades vitais.


     E así o fai Versos e aloumiños, reproducindo tres deles (ademais dos fragmentos xa reflectidos) comezando por “ O Amor em Visita”, un dos seus poemas máis coñecidos do seu poemario do mesmo nome publicado en 1958. Di o meu amigo que “é pura música, a começar pelo primeiro verso, inesquecível”.


Ten razón, José António.
Leamos e gocemos da palabra poética de Herberto Helder. Para moitos será un pracenteiro descubrimento.


O Amor em Visita
Pintura de Benito Pérez Fernández
Dai-me uma jovem mulher com sua harpa de sombra
e seu arbusto de sangue. Com ela
encantarei a noite.
Dai-me uma folha viva de erva, uma mulher.
Seus ombros beijarei, a pedra pequena
do sorriso de um momento.
Mulher quase incriada, mas com a gravidade
de dois seios, com o peso lúbrico e triste
da boca. Seus ombros beijarei.

Cantar? Longamente cantar.
Uma mulher com quem beber e morrer.
Quando fora se abrir o instinto da noite e uma ave
o atravessar trespassada por um grito marítimo
e o pão for invadido pelas ondas -
seu corpo arderá mansamente sob os meus olhos palpitantes.
Ele - imagem vertiginosa e alta de um certo pensamento
de alegria e de impudor.
Seu corpo arderá para mim
sobre um lençol mordido por flores com água.

Em cada mulher existe uma morte silenciosa.
E enquanto o dorso imagina, sob os dedos,
os bordões da melodia,
a morte sobe pelos dedos, navega o sangue,
desfaz-se em embriaguez dentro do coração faminto.

- Oh cabra no vento e na urze, mulher nua sob
as mãos, mulher de ventre escarlate onde o sal põe o espírito,

mulher de pés no branco, transportadora
da morte e da alegria.
Dai-me uma mulher tão nova como a resina
e o cheiro da terra.
Com uma flecha em meu flanco, cantarei.
E enquanto manar de minha carne uma videira de sangue,
cantarei seu sorriso ardendo,
suas mamas de pura substância,
a curva quente dos cabelos.
Beberei sua boca, para depois cantar a morte
e a alegria da morte.
Dai-me um torso dobrado pela música, um ligeiro
pescoço de planta,
onde uma chama comece a florir o espírito.
À tona da sua face se moverão as águas,
dentro da sua face estará a pedra da noite.
- Então cantarei a exaltante alegria da morte.
Nem sempre me incendeiam o acordar das ervas e a estrela
despenhada de sua órbita viva.
- Porém, tu sempre me incendeias.
Esqueço o arbusto impregnado de silêncio diurno, a noite
imagem pungente
com seu deus esmagado e ascendido.
- Porém, não te esquecem meus corações de sal e de brandura.
Entontece meu hálito com a sombra,
tua boca penetra a minha voz como a espada
se perde no arco.
E quando gela a mãe em sua distância amarga, a lua
estiola, a paisagem regressa ao ventre, o tempo
se desfibra - invento para ti a música, a loucura
Pintura de Benito Pérez Fernández

e o mar.
Toco o peso da tua vida: a carne que fulge, o sorriso,
a inspiração.
E eu sei que cercaste os pensamentos com mesa e harpa.
Vou para ti com a beleza oculta,
o corpo iluminado pelas luzes longas.
Digo: eu sou a beleza, seu rosto e seu durar. Teus olhos
transfiguram-se, tuas mãos descobrem
a sombra da minha face. Agarro tua cabeça
áspera e luminosa, e digo: ouves, meu amor?, eu sou
aquilo que se espera para as coisas, para o tempo -
eu sou a beleza.
Inteira, tua vida o deseja. Para mim se erguem
teus olhos de longe. Tu própria me duras em minha velada
beleza.
Então sento-me à tua mesa. Porque é de ti
que me vem o fogo.
Não há gesto ou verdade onde não dormissem
tua noite e loucura, não há vindima ou água
em que não estivesses pousando o silêncio criador.
Digo: olha, é o mar e a ilha dos mitos
originais.
Tu dás-me a tua mesa, descerras na vastidão da terra
a carne transcendente. E em ti
principiam o mar e o mundo.
Minha memória perde em sua espuma
o sinal e a vinha.
Plantas, bichos, águas cresceram como religião
sobre a vida - e eu nisso demorei
meu frágil instante. Porém
teu silêncio de fogo e leite repõe a força
maternal, e tudo circula entre teu sopro
e teu amor. As coisas nascem de ti
como as luas nascem dos campos fecundos,
os instantes começam da tua oferenda
como as guitarras tiram seu início da música nocturna.
Mais inocente que as árvores, mais vasta
Pintura de Benito Pérez Fernández

que a pedra e a morte,
a carne cresce em seu espírito cego e abstracto,
tinge a aurora pobre,
insiste de violência a imobilidade aquática.
E os astros quebram-se em luz
sobre as casas, a cidade arrebata-se,
os bichos erguem seus olhos dementes,
arde a madeira - para que tudo cante
pelo teu poder fechado.
Com minha face cheia de teu espanto e beleza,
eu sei quanto és o íntimo pudor
e a água inicial de outros sentidos.
Começa o tempo onde a mulher começa,
é sua carne que do minuto obscuro e morto
se devolve à luz.
Na morte referve o vinho, e a promessa tinge as pálpebras
com uma imagem.
Espero o tempo com a face espantada junto ao teu peito
de sal e de silêncio, concebo para minha serenidade
uma ideia de pedra e de brancura.
És tu que me aceitas em teu sorriso, que ouves,
que te alimentas de desejos puros.
E une-se ao vento o espírito, rarefaz-se a auréola,
a sombra canta baixo.
Começa o tempo onde a boca se desfaz na lua,
onde a beleza que transportas como um peso árduo
se quebra em glória junto ao meu flanco
martirizado e vivo.
- Para consagração da noite erguerei um violino,
beijarei tuas mãos fecundas, e à madrugada
darei minha voz confundida com a tua.
Oh teoria de instintos, dom de inocência,
taça para beber junto à perturbada intimidade
em que me acolhes.
Começa o tempo na insuportável ternura
Pintura de Benito Pérez  Fernández.

com que te adivinho, o tempo onde
a vária dor envolve o barro e a estrela, onde
o encanto liga a ave ao trevo. E em sua medida
ingénua e cara, o que pressente o coração
engasta seu contorno de lume ao longe.
Bom será o tempo, bom será o espírito,
boa será nossa carne presa e morosa.
- Começa o tempo onde se une a vida
à nossa vida breve.
Estás profundamente na pedra e a pedra em mim, ó urna
salina, imagem fechada em sua força e pungência.
E o que se perde de ti, como espírito de música estiolado
em torno das violas, a morte que não beijo,
a erva incendiada que se derrama na íntima noite
- o que se perde de ti, minha voz o renova
num estilo de prata viva.
Quando o fruto empolga um instante a eternidade
inteira, eu estou no fruto como sol
e desfeita pedra, e tu és o silêncio, a cerrada
matriz de sumo e vivo gosto.
- E as aves morrem para nós, os luminosos cálices
das nuvens florescem, a resina tinge
a estrela, o aroma distancia o barro vermelho da manhã.
E estás em mim como a flor na ideia
e o livro no espaço triste.
Se te aprendessem minhas mãos, forma do vento
a cevada pura, de ti viriam cheias
minhas mãos sem nada. Se uma vida dormisses
em minha espuma,
que frescura indecisa ficaria no meu sorriso?
- No entanto és tu que te moverás na matéria
da minha boca, e serás uma árvore
dormindo e acordando onde existe o meu sangue.
Beijar teus olhos será morrer pela esperança.
Pintura de Benito Pérez  Fernández.

Ver no aro de fogo de uma entrega
tua carne de vinho roçada pelo espírito de Deus
será criar-te para luz dos meus pulsos e instante
do meu perpétuo instante.
- Eu devo rasgar minha face para que a tua face
se encha de um minuto sobrenatural,
devo murmurar cada coisa do mundo
até que sejas o incêndio da minha voz.
As águas que um dia nasceram onde marcaste o peso
jovem da carne aspiram longamente
a nossa vida. As sombras que rodeiam
o êxtase, os bichos que levam ao fim do instinto
seu bárbaro fulgor, o rosto divino
impresso no lodo, a casa morta, a montanha
inspirada, o mar, os centauros
do crepúsculo
- aspiram longamente a nossa vida.
Por isso é que estamos morrendo na boca
um do outro. Por isso é que
nos desfazemos no arco do verão, no pensamento
da brisa, no sorriso, no peixe,
no cubo, no linho,
no mosto aberto
- no amor mais terrível do que a vida.
Beijo o degrau e o espaço. O meu desejo traz
Pintura de Benito Pérez Fernández.

o perfume da tua noite.
Murmuro os teus cabelos e o teu ventre, ó mais nua
e branca das mulheres. Correm em mim o lacre
e a cânfora, descubro tuas mãos, ergue-se tua boca
ao círculo de meu ardente pensamento.
Onde está o mar? Aves bêbedas e puras que voam
sobre o teu sorriso imenso.
Em cada espasmo eu morrerei contigo.
E peço ao vento: traz do espaço a luz inocente
das urzes, um silêncio, uma palavra;
traz da montanha um pássaro de resina, uma lua
vermelha.
Oh amados cavalos com flor de giesta nos olhos novos,
casa de madeira do planalto,
rios imaginados,
espadas, danças, superstições, cânticos, coisas
maravilhosas da noite. Ó meu amor,
em cada espasmo eu morrerei contigo.
De meu recente coração a vida inteira sobe,
o povo renasce,
o tempo ganha a alma. Meu desejo devora
a flor do vinho, envolve tuas ancas com uma espuma
de crepúsculos e crateras.
Ó pensada corola de linho, mulher que a fome
encanta pela noite equilibrada, imponderável -
em cada espasmo eu morrerei contigo.
E à alegria diurna descerro as mãos. Perde-se
entre a nuvem e o arbusto o cheiro acre e puro
da tua entrega. Bichos inclinam-se
para dentro do sono, levantam-se rosas respirando
contra o ar. Tua voz canta
o horto e a água - e eu caminho pelas ruas frias com
o lento desejo do teu corpo.
Beijarei em ti a vida enorme, e em cada espasmo
eu morrerei contigo.


  
Leamos estoutro poema:




As barcas gritam sobre as águas.
Eu respiro nas quilhas.
Atravesso o amor, respirando.
Como se o pensamento se rompesse com as estrelas
brutas. Encosto a cara às barcas doces.
Barcas maciças que gemem
com as pontas da água.
Encosto-me à dureza geral.
Ao sofrimento, à ideia geral das barcas.
Encosto a cara para atravessar o amor.
Faço tudo como quem desejasse cantar,
colocado nas palavras.
Respirando o casco das palavras.


Sua esteira embatente.
Com a cara para o ar nas gotas, nas estrelas.
Colocado no ranger doloroso dos remos,
Dos lemes das palavras.

É o chamado rio tejo
pelo amor dentro.
Vejo as pontes escorrendo.


Ouço os sinos da treva.
As cordas esticadas dos peixes que violinam a água.
É nas barcas que se atravessa o mundo.
As barcas batem, gritam.
Minha vida atravessa a cegueira,
chega a qualquer lado.
Barca alta, noite demente, amor ao meio.
Amor absolutamente ao meio.
Eu respiro nas quilhas. É forte
o cheiro do rio tejo.

Como se as barcas trespassassem campos,
a ruminação das flores cegas.
Se o tejo fosse urtigas.
Vacas dormindo.
Poças loucas.
Como se o tejo fosse o ar.
Como se o tejo fosse o interior da terra.
O interior da existência de um homem.
Tejo quente. Tejo muito frio.
Com a cara encostada à água amarela das flores.
Aos seixos na manhã.
Respirando. Atravessando o amor.


Com a cara no sofrimento.
Com vontade de cantar na ordem da noite.

Se me cai a mão, o pé.
A atenção na água.
Penso: o mundo é húmido. Não sei
o que quer dizer.
Atravessar o amor do tejo é qualquer coisa
como não saber nada.
É ser puro, existir ao cimo.

Atravessar tudo na noite despenhada.
Na despenhada palavra atravessar a estrutura da água,
da carne.
Como para cantar nas barcas.
Morrer, reviver nas barcas.

As pontes não são o rio.
As casas existem nas margens coalhadas.
Agora eu penso na solidão do amor.
Penso que é o ar, as vozes quase inexistentes no ar,
o que acompanha o amor.
Acompanha o amor algum peixe subtil.








     Nun segundo correo, José António Gomes envíame un novo poema.
Fermoso.

Non me resisto a compartilo con vós.



Sobre um poema


Um poema cresce inseguramente
na confusão da carne,
sobe ainda sem palavras, só
ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais
do ser.

Fora existe o mundo. Fora a
esplêndida violência 
         ou os bagos de uva de onde nascem
         as raízes minúsculas do sol.
         Fora, os corpos genuínos e 
         inalteráveis 
        do nosso amor, 
        os rios, a grande paz exterior das coisas, 
        as folhas dormindo o silêncio,
        as sementes a beira do vento,
        - a hora teatral da posse.
       E o poema cresce tomando tudo em
       seu regaço.

E já nenhum poder destrói o poema .
Insustentável , único ,
invade as órbitas , a face amorfa das
paredes,
a miséria dos minutos, 
a força sustida das coisas,
a redonda e livre harmonia do
mundo.

- Em baixo o instrumento perplexo
ignora
a espinha do mistério.
- E o poema faz- se contra o tempo e
a carne. "

       



     Sorte que os poetas nunca morren. Viven na lectura dos seus versos. Leamos a Helder para que siga pousando a súa palabra sobre os nosos intereses e as nosas conciencias.
Será un pracer infinito.


                                                                                                                                                   ANTONIO  GARCÍA TEIJEIRO

jueves, 26 de marzo de 2015

"AS PALABRAS PODEN MATAR", de MARCOS CALVEIRO: UNHA NOVELA XUVENIL QUE PON O DEDO NA CHAGA DA INXUSTIZA SOCIAL.



         
Marcos Calveiro
Un sempre agarda con expectación os novos libros daqueles autores e autoras que teñen algo que dicir cos seus escritos. Daqueles autores e autoras que conseguen ter unha voz propia e un compromiso claro coa literatura.
    
     Marcos Calveiro é un deles. Marcos Calveiro é un escritor cun discurso narrativo claro, comprometido. Un discurso de alguén que cre no que escribe (algo que se agradece) e faino a través dunha linguaxe coidada e viva.
    
     Así que agardaba expectante a nova novela xuvenil do escritor de Vilagarcía. As palabras poden matar é o seu título e está editada por Edicións Xerais de Galicia na súa colección Fóra de Xogo.  Non me defraudou.
    
     As palabras poden matar é unha novela valente. Pon o dedo na chaga nesa parte da sociedade na que morren moitas persoas cada ano vítimas da violencia. Homes, mulleres e nenos que semellan mudos, cegos, xordos, porque viven entre a miseria, o medo e baixo un estado de terror constante controlado por un cacique cruel e asasino que ten ao seu mando uns sicarios obedientes ata o límite.

     Pero, tras a lectura desta historia, creo que é a colonia de Seavia, situada nun dos outeiros da cidade de Santa Clara, a verdadeira protagonista da novela. Seavia, dominada por Chibo e os seus sicarios, convértese nun espazo no que os seus habitantes forman parte dun todo que non ten fisuras. Cada un dos personaxes do barrio está atado a el e séntese mimetizado coa dura realidade sen marxe de manobra. Perderon hai tempo os soños de fuxir de alí e malviven aceptando a dura realidade.
    
     Ao longo do relato aparecen algúns intentos de rebeldía mais  fican sufocados polo medo e o terror que sofren. Todos son conscientes de formar parte  dun tecido case uniforme debido a ese control asasino que exercen sobre el.

     A min doeume Seavia cando lin este libro. Sentín os personaxes impotentes con case ningunha posibilidade de superar esa situación angustiosa. Decateime de que Seavia contiña eses personaxes e que a estes lles resultaba imposible rachar as cadeas que os afogaban. Sentín moita tristeza, moita impotencia. A inxustiza, que está presente en todo o relato, chegou a oprimirme. E dentro desta atmosfera móvense rapaces e rapazas como Efrén, que garda algún soño e é algo rebelde, o seu irmán Marcelo, Alexandre, o seu amigo, que cae nas gadoupas do Chibo, Abimael, o mestre que lles conta historias aos que acoden ás aulas. E tamén Daiara, unha moza que traballa de costureira; Maisa, unha loitadora, nai de Efrén e Marcelo, que ten o seu home no cárcere, dona Rosa, á que o cacique eliminou os seus fillos.
    
      Hai neste relato un personaxe curioso, Silencio, un guedellán mudo, que fala con xestos, con expresións da súa faciana. Un personaxe que semella doutro mundo en Seavia, cuxa presenza no barrio servirá para remover espíritos e mudará, dalgún xeito, a dinámica dos habitantes da colonia.
    
     As palabras poden matar é a novela do fracaso da política, do abandono dos seres humanos, dos nenos e nenas sen esperanzas. A novela da humillación, da miseria física e moral incrustadas no máis fondo das persoas. A novela que pon no mapa os “meninhos da rúa”, as favelas, o sometemento. A que nos fala desa parte da sociedade escura, invisible, que amola e sofre. Da violencia agochada e, a miúdo, presente en múltiples lugares do mundo nos que prevalece a desigualdade permanente e sen trazas de solución. Lugares que son noticias nos xornais, nas imaxes de televisión ou motivo das películas de denuncia.
     
Meniños da rúa (Fonte: Uol)

      Marcos Calveiro relátanos todo isto – e máis – en case cento trinta páxinas e dezasete capítulos. Uns capítulos que seguen un desenvolvemento lineal e outros, moi ben intercalados, a xeito de monólogo. Neles o autor dá voz a certas persoas que conforman o tecido social de Seavia. O Chibo, Maisa, Efrén, Marcelo, Dona Rosa, Daiara, Alexandre e Abimael pensan en voz alta e cóntannos as súas preocupacións, os seus soños apagados e, mesmo, as súas xustificacións.Eles falan e son os elos precisos dunha cadea que empurra a historia. Unha maneira de afondar nas entrañas duns seres castigados pola vileza dos que ameazan ou, como no caso do Chibo – a quen ninguén coñece, pero todos temen e odian-, escoitar da súa boca  as viles razóns para constituírse no “pastor do rabaño”. Un recurso ben elixido que permite coñecer as reflexións dos personaxes e que encaixa perfectamente co desenvolvemento da obra.

     Certo desacougo produciume a lectura d´As palabras poden matar.
     Cando rematei, fiquei pensativo. Deilles voltas aos feitos relatados. Unha dobre sensación apoderouse de min: a ledicia por ler boa literatura e a tristeza de saber que o lido está a suceder na actualidade sen que se lle poña remedio.

     Ai, a palabra literaria!
     Tamén poderá matar?

                                                                                 ANTONIO GARCÍA TEIJEIRO