JOÃO PEDRO
MÉSSEDER ( Porto, 1957)
Alvorada – e o galo transforma a luz
em canto.
As nuvens são as copas das árvores
do céu.
João Pedro Mésseder (Foto Correio do Porto) |
O
musgo é o veludo que
agasalha a pedra dos muros.
Despidas, certas árvores são como
mãos suplicantes
durante
os longos meses do inverno. Na primavera,
a
prece é satisfeita: o verde sobe-lhes aos ramos
e
os ninhos florescen.
No mundo dos pássaros, os bosques
são cidades.
renasce.
A
lúa cheia é o botao que
o pijama do céu perde
certas
noites.
A
noite escreve versos. O
dia recita-os e canta-os.
Os espelhos são placas de mar
arrancadas da estrada que
leva
ao sol poente.
O
mar tinge de azul os
olhos de certos homens nascidos
junto
à costa.
O
metro emerge do túnel e
entra na estaçao como pasta
de
dentes a sair do tubo.
Ilustración de Rachel Caiano |
O
vento nunca se magoa
nos muros e nos rochedos.
Nas manhãs de inverno, acordar e
sair do leito dói quase
tanto
como, a um bebé, vir ao mundo.