miércoles, 2 de noviembre de 2022

ESCAPARATE POÉTICO (CXXXV) Antom Laia

 




                                          ANTOM  LAIA  (Melide, 1956)

 

 

 

CHOVE EN SETEMBRO

 


chove na secura deste setembro

nos versos que abouram todas as mentiras

Antom Laia. (Foto tomada da editorial Urutau)
e dizia Novoneyra: “chove para que eu sonhe”

biluricos e borboletas

setembro

recordo

mas recordo sem saber, sem saber, sem saber se

foi onte, antes de onte ou quiçais umha sombra

 

os poemas som um esquelete de cinza

pois os corpos soterran-se

na lama

chove em setembro para que eu sonhe

 

 

 

 


NESTA AUSÊNCIA PROLONGADA

 





Amo-te nesta ausência prolongada

fruta acochada nos meus olhos

espera infinita da lingua que busca

ateigar-se humida nos teus seios


Amo-te prolongando-me na ausência

para achar-te nesta ida que é volta

fruta a correr na vertigem que molha

os espaços das amêndoas cultivadas


 Amo-te louco nesta espera tam ausente

para fundir a minha carne

em tua carne espasmo ardente do lume que consome

 

Amo-te inteiramente nas profundidades

de esta ausência envolvendo o meu sexo

nos abraços selvagens que te agardam

para alongar-se totalmente nesta ausência!

 

 

 

 


COMO O ORVALHO

 

Hoje-quando me espelho-baleiro-me

pois nada tenho que poemar

o poema

no vêrtice do inexplicável afogou na rosa,


o demais som só palavras semk raiz

como o orvalho.

 

 

 

VERDE

 

 

verde a lua

verdes

agora que recordo o arrecendo das ervas

e miro-te canso, como o velho da gabardina-percorrendo

caminhos-de pouco a pouco-saco ao lombo, passeninho

no tris-tras que rompen as janelas nas que se abre o céu

seios de escumas brétemas essências do verdor nas folhas

e brincam as águas no arredor de esse moinho destragado

 

 

 

(Do libro  Na insônia cruel do relógio, editado por Medulia editorial, 2022)